Tendo primeiramente cursado Jornalismo na já extinta Escola Superior de Meios de Comunicação Social, Leonor Figueiredo trabalhou, desde 1981 até 1988, em vários meios de comunicação, entre eles no jornal Correio da Manhã. No seu percurso, o seu trabalho foi maioritariamente direccionado para as áreas da saúde e da cultura, mas é na investigação que Leonor tem vindo a destacar-se. A jornalista foi também redactora do Diário de Notícias durante vinte e um anos, até 2009, temporada na qual ganha mais de vinte prémios só naquele jornal.
Frequenta outras formações complementares: em 1997, completa o Curso de Especialização em Toxicodependência do Cenjor, em 2003 o Curso Intensivo de Sensibilização à Arte Moderna e Contemporânea e, em 2005, o Curso Intensivo de Arte em Portugal no século XX. Também em 2003, a jornalista acaba nova licenciatura em Jornalismo na Escola Superior de Comunicação Social. No corrente ano, é ainda mestranda em História Contemporânea, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Leonor Figueiredo recebeu ainda outras distinções, como o Prémio de imprensa Contra a Sida, em 1997, e em 1999 arrecadou os Prémios Ramiro da Fonseca e Bordalo, da Casa da Imprensa, com a investigação no “Caso Virodene”, realizada para o Diário de Notícias, através da qual denunciou a utilização, em Portugal, de um medicamento para a SIDA não autorizado.
Ainda nos seus primeiros anos de carreira, foi a 25 de Maio 1987 que publicou um artigo para o qual entrevistou Américo Afonso, um dos portugueses que viveu para contar o que passou na prisão clandestina de Catete, em Angola, nos tempos da Guerra Colonial. “Eu tenho vergonha de ser português”, revelou, então, o sobrevivente.
Nascida em Angola a 15 de Novembro de 1956, Leonor Figueiredo permaneceria no seu país de origem até 1975. Ainda antes de se intensificar o Verão Quente, a jornalista e sua família desertam de Angola. Nunca mais houve notícias, porém, de João Cândido Figueiredo, seu pai, que lá desapareceu, em 16 de Julho do mês seguinte. Foi assim que a jornalista, procurando colmatar as lacunas que persistiam sobre o desaparecimento do pai, se deparou com uma realidade terrível e mascarada, não só para ela mas para tantos portugueses que haviam perdido familiares além-mar, o que a fez lançar-se nos trilhos da investigação.
Na sua busca por uma justificação para o desaparecimento do pai – e encorajada por Zita Seabra, editora da Alêtheia, a escrever a história da sua família - Leonor Figueiredo encontraria uma pasta do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) que, à altura, teria sido recentemente desclassificada. A mesma pasta que continha uma lista de portugueses desaparecidos em Angola durante a emancipação. Ou, como se ocultou, muitos deles presos políticos, que em Portugal eram dados como desaparecidos – mas que, por vezes, vinham a ser “encontrados” em prisões clandestinas. “Portugal entregou Angola ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) muito mais cedo do que se pensava. Cerca de meio ano antes”, declara Leonor Figueiredo, em entrevista ao Correio da Manhã, em 2009.
A história de Leonor Figueiredo já não é apenas a sua, mas também a das famílias dos mais de duzentos portugueses dissimulados nesta omissão, cujos nomes estariam declarados nessa lista oficial, descoberta pela jornalista. O próprio MNE terá admitido, em 1977, a prisão de portugueses pelo MPLA antes de ter sido oficialmente declarada a independência da antiga colónia africana.
Leonor Figueiredo remexeu nos segredos de um passado obscuro português e escreveu para fazer o luto do seu pai desaparecido em África. E não se ficou pelo testemunho de Américo Afonso: reuniu testemunhos da prisão, tortura e abandono a que muitos portugueses foram votados, em plena emancipação das colónias ultramarinas, e com eles compilou os Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola, título da obra que edita em 2009, pela Alêtheia. É com este livro que, escrito em estilo de reportagem, Leonor Figueiredo compila a sua primeira obra, baseada na investigação, perseguição e exposição de muitos factos ocultados da maioria dos portugueses.
Em 2010, Leonor Figueiredo continua o seu trabalho de investigação e lança mais uma obra, também pela Alêtheia: Sitta Valles, Revolucionária, Comunista Até À Morte (1951-1977), relatando a vida da revolucionária angolana que, ainda em Portugal, participou activamente na luta furtiva contra o Estado Novo, e que regressou a Angola para se juntar ao MPLA, em Junho de 1975, acabando por ser fuzilada em Agosto de 1977.
Dois anos antes, a Junho de 1975, era Leonor Figueiredo que regressava a Portugal. Sem nunca mais, no entanto, esquecer Angola: a jornalista revisitou-a, investigou-a, redescobriu esse país na sua carreira e trouxe tantas memórias de lá até cá - tendo contribuído para que se constitua uma parte verdadeira da história de Portugal, uma parte da qual muitos continuam a esconder-se e a ignorar. Como podemos, no entanto, encarar um jornalismo que faz história – como história, como jornalismo ou como ambos? Qual o papel do jornalismo na investigação no desvendar de informações de interesse público – neste caso, qual o papel do jornalismo na História recente de um país e dos seus cidadãos? Que linha de trabalho seguir na investigação?
Qual será, no fundo, a responsabilidade social de um jornalismo de investigação e o valor que lhe deve ser atribuído? Qual será, neste momento, o estado do jornalismo de memória feito em Portugal?...